quinta-feira, abril 19, 2018

JORNALISMO EXEMPLAR

Quando leio na comunicação social notícias que poem em causa a credibilidade de políticos questiono-me sobre se além dos nossos procuradores, também os jornalistas foram inoculados com uma vacina especial que os torna em sacerdotes livres de pecado. Parece que estes seres puros chamaram a si a tarefa de purificar a democracia, descobrindo que vem a bola com convites ou quem anda a receber gorjeta duas vezes.

A propósito da última grande descoberta do Expresso, veio-me à memória uma notícia em tempos abafada, dando conta que a EDP tinha convidado um rebanho de jornalistas para irem ver o Rock in Rio. Mas como se tratava de gente chunga, não podia ima ao Rock in Rio de Chela e jogar à lerpa num canto escondido do parque da Bela Vista, tiveram de ir a Las Vegas com tudo pago. Lembro-me muito bem de nesse tempo ler no Expresso artigos laudatórios da EDP e de Mexia.

Este tipo de casos repete-se na nossa comunicação social e explica porque motivo algumas personagens com quem quer ninguém quer agora ir à missa nas capelas privativas, andavam no passado com todas as partes luzidias graças às lambedelas do jornalismo. Quem não se lembra da ameça de Ricardo Salgado de deixar de dar de comer ao pessoal da Impresa, se continuassem as notícias sobre o mensalão? Pinto Balsemão ainda formulou a competente afirmação de independência, mas o assunto foi abafado ainda mais depressa do que o ataque químico ao espião russo.

Dantes não existiam escolas de jornalismo, os jornais eram propriedade de patrões que punham e dispunham nas redações e os nossos jornais foram exemplos de luta pela democracia. Agora, com tanta preocupação com a independência e a deontologia, fico abismado ao ver tantos jornalistas esforçando-se por denegrir a democracia. Pior ainda, todos os dias vemos na comunicação social sinais de corrupção, desde a promiscuidade com agentes da justiça, à graxa a empresas e patrões que gerem grandes orçamentos publicitários, passando pelos almoços discretos entre diretores de jornais e agentes dos poderes, acabano na promiscuidade entre jornalismo e o mundo duvidoso da bola, com jornalistas a converterem-se em pequeninos Goebbels ao serviço de presidentes manhosos.

É pena que os nossos jornalistas que todos os dias tentam passar a imagem de uma democracia de políticos corruptos, não comecem por mostrar que a instituição da democracia que mais está corroída pela promiscuidade é precisamente a comunicação social.