terça-feira, abril 10, 2018

2019, ANO ELEITORAL

Desde os anos 70 que a direita tem vindo a tecer uma imagem de rigor e de competência, ao mesmo tempo que tenta atribuir à esquerda os pecados do despesismo, da incompetência, dos défices e da falta de rigor. Assim como o pobre é maneta e o rico é deficiente, a direita cheira bem e a esquerda é tudo gente feia, malcheirosa e incompetente.

Forçado pelas circunstâncias o atual governo contribuiu para uma imagem muito diferente da esquerda, algo muito positivo pois é preciso que os eleitores possam ter esperança com governos saídos dos meios democráticos. Afina, um governo de esquerda pode ser rigoroso, pode cumprir défices e pode criar primeiro a riqueza para a distribuir depois. 

O último desafio que se coloca a este governo é demonstrar que se podem ganhar eleições prometendo rigor, transparência e competência, pondo fim ao espetáculo das inaugurações que foi a marca de Cavaco Silva, à apresentação de programas eleitorais falsos como sucedeu com Passos Coelho ou ao aumento da despesa a coberto de princípios keynesianos de ocasião, como fez Sócrates.

O cidadão comum, os eleitores, os investidores, todos os agentes da sociedade precisam mais de confiança no futuro do que um regabofe em ano eleitoral e a maior prova de confiança que um governo pode dar é ser rigoroso no ano eleitoral. É preferível promover a confiança no futuro do que lançar um espetáculo de inauguração de rotundas ou de promessas eleitorais.

A melhoria na distribuição do rendimento nacional deve ser um objetivo de médio e longo prazo, não pode resultar da gestão orçamental de ocasião. A tentação de o fazer é sempre grande. A própria oposição, que ainda antes de conhecer o PEC ou o OE para 2019 já fala em eleitoralismo, não vai perder a oportunidade para sugerir que dava mais. Veja -se a posição de Rui Rio, em janeiro desvalorizava os resultados ao nível do défice dizendo que com ele haveria um superávite, três meses depois e ao ouvir que tinham aumentado as receitas fiscais, defende que em vez de superávites deveriam baixar-se os impostos.

Se o governo prometer aumentos de rendimentos a oposição exige aumento do investimento, se o governo propor aumento dos impostos sobre o consumo a oposição exige uma descida do IRC, se o governo defender o rigor a direita exige aumentos da despesa. Se a esquerda assumir o rigor e uma visão económica de médio e longo prazo será o PSD e o CDS a fazerem aquilo que no passado sugeriam ser as políticas da esquerda. É aquilo a que se chama tratar o cão com o pêlo do próprio cão.