segunda-feira, fevereiro 05, 2018

É O MERCADO SEUS ESTÚPIDOS!



Ao ritmo a que a economia e a criação de emprego crescem é boa estratégia promover alterações na legislação laboral? Valerá a pena arriscar a perda de investimento com grandes vitórias dos trabalhadores, conseguido hoje o que na próxima semana seria conseguido pelo mercado?

É certo que o governo de Passos Coelho se aproveitou da crise para conseguir o que parte da direita sempre defendeu mesmo em situações em que não havia crise. O CDS e parte do PSD sempre acharam que tudo o que fosse bom para os patrões e para os mais ricos, mesmo os que vivem apenas dos rendimentos, era bom para o país. Por isso a crise financeira foi uma boa oportunidade para mexerem na distribuição dos rendimentos em favor dos seus.

A resposta lógica seria reverter tudo, mas isso tem riscos políticos. Pensar que são regras laborais favoráveis aos patrões que criam emprego é uma velha idiotice que não explica porque motivo um país onde durante décadas não existiram direitos laborais e onde se passava fome não enriqueceu. Setores industriais onde se praticavam regimes laborais próximos da escravidão faliram.

A escravidão não promove empresas competitivas, nem atrai investimentos que geram progresso, antes pelo contrário, protege empresários preguiçosos e investidores oportunistas. Setores como as pescas, a agricultura, a indústria conserveira e mesmo a indústria têxtil, mostra como aqueles que mais beneficiaram dos salários baixos foram os que mais dificuldades sentiram em sobreviver. Hoje as empresas mais competitivas são as que remuneram melhor os trabalhadores, as que recorrem a trabalho mais qualificado.

Hoje há setores onde já se registam dificuldades na contratação de trabalhadores qualificados, muitos investimentos estão sendo travados pela falta de trabalhadores e não pelo quadro legislativo aplicável ás relações laborais. Não tardará muito a que se sintam pressões salariais e mesmo em relação ao trabalho pouco qualificado já se sentem dificuldades. Não nos admiraríamos que a mesma CIP que se recusa a aumentar o salário mínimo venha daqui a meses exigir contrapartidas fiscais na Concertação Social, porque foi o mercado a forçar os seus associados a aumentar os salários mais baixos, sob pena de verem os seus trabalhadores fugirem.

Os que beneficiaram do aumento do desemprego e viam na emigração uma forma de evitar tensões sociais, terão agora de pagar aos que ficaram e estavam desempregados o que ganharam abusivamente durante a crise. É do interesse dos trabalhadores usar agora o argumento da direita e exigir que deixem os mercados funcionarem sem intervencionismos, dizendo a Assunção Cristas e a outros “é o mercado seus estúpidos”.