segunda-feira, abril 10, 2017

O esquema do cuco



Há a ideia de que os governantes escolhem os seus paus mandados para os altos cargos da Administração Pública, para conseguirem favores no exercício do seu mandato. Talvez isso seja verdade, mas também é verdade que o modelo mais sofisticado e inteligente não envolve governantes no ativo, trata-se de uma estratégia que copia a do cuco, que coloca os seus ovos nos ninhos de outras aves, os seus descendentes não só são alimentados pelo progenitor involuntário, como expulsam as outras crias do ninho.

Basta olhar à nossa volta para reconhecermos vários políticos bem-sucedidos na vida, alguns conseguiram mesmo um estatuto na banca, passando em poucos anos da condição de pobres diabos para a de jet set. Alguns destes políticos desempenharam altos cargos partidários, não tendo chegado a desempenhar funções governamentais ou, quando isso sucedeu, fizeram-no em pastas com reduzida expressão económica. Uns tiveram um percurso parlamentar onde lideraram bancadas, outros foram secretários-gerais de partidos com presidente, alguns fabricaram primeiros-ministros ou chegaram mesmo a inventá-los a partir de personagens sem grande futuro.

Pensar que um governante ou um negociante de influências com alto estatutos político morre quando muda um governo é um  engano. Enquanto estão no poder, seja como governantes ou com responsáveis partidários, criam uma teia de relacionamentos que vai perdurar para além do tempo em que estão no poder. Designam gente da sua confiança para os mais importantes cargos da Administração Pública, desde diretores-gerais a modestos chefes de divisão. 

A sofisticação destes “cucos” é tão sofisticada que chegam a contar com suplentes, quando um novo governo chega e muda alguns dirigentes escolhe muitas vezes mais um ovo do “cuco” que estava à espera da sua vez. É desta forma qe algumas personalidades que estiveram em posições de relevo continuam a ter um estatuto de “padrinhos” durante longos anos. Por vezes, já passou mais de uma década e ainda conseguem escolher dirigentes para postos estratégicos.

Quando os governos mudam podem dizer que nada têm que ver com os negócios, mas na verdade é quando os “cucos” estão mais ativos. As suas crias são obedientes não só porque devem tudo aos progenitores, como sabem que mais tarde ou mais cedo o seu “cuco” ou os seus amigos estarão novamente no poder, graças à bendita alternância democrática. Alguns são tão servis que para além dos favores comerciais dedicam-se a favores políticos, fazendo de antenas do futuro poder, fornecendo informação confidencial. Há mesmo que já tenha chegado muito alto na vida à custa destes esquemas.

Miguel Relvas, o mais recente senador e candidato a banqueiro institucionalizou a figura do “cuco”, agora a Geringonça conta com centenas de dirigentes escolhidos por falsos concursos, aprovados por um ingénuo chamado Seguro. António Costa é o primeiro-ministro em funções, mas quem manda em muitos serviços do Estado é Passos Coelho, o primeiro-ministro no exílio. Aliás, o ridículo chegou ao ponto de a venda do Novo Banco ter sido preparada por um secretário de Estado de Passos Coelho, neste caso nem houve necessidade de concurso, foi inventado um lugar de assessor.