sexta-feira, outubro 14, 2016

Umas no cravo e outras na ferradura



  
 Jumento do dia
    
António Saraiva, chefe da CIP

Quem ouvir Saraiva falar até parece que a sua CIP é muito generosa em relação aos trabalhadores e que é frequente darem um chouriço sem exigirem um porco em troca. Este foi o senhor que na hora do golope da TSU festejou a redução das contribuições dos patrões à custa de um aumento equivalente das contribuições pagas pelos trabalhadores, desde esse dia que o presidente da CIP devia ter vergonha de aparecer em público.

A CIP não é uma associação empresarial credível na medida em que não esconde ter objectivos partidários. Além disso é pouco provável que hoje represente as empresas portuguesas no seu todo.

«O objetivo do atual Governo de aumentar o salário mínimo nacional (SMN) para 600€ em 2019 é “meramente político” e “um número sem racionalidade que não tem relação com o crescimento da economia portuguesa”, caraterizou António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), hoje, no Europarque. 

“Não podem exigir-nos que desrespeitemos o acordo que está em vigor até ao final do ano, que define momentos e que tem regras a respeitar. O Governo foi um dos subscritores do acordo e não pode voltar atrás”, alertou. “Os salários não podem subir se não derem algo significativo em troca”, adiantou.

Para o representante dos patrões, só há condições para subir o SMN “se houver estabilidade fiscal e laboral”. Caso contrário, alertou, “não contem com a CIP” para questões como a extensão dos contratos a prazo.» [Jornal de Negócios]

 Bob Dylan




Algumas posições que se vão ouvindo sobe a entrega do Nobel da Literatura a Bob Dylan fazem lembrar as posições de alguns taxistas em relação à UBER:

 O elogio da evasão fiscal

«E mesmo que vá vender bolas de Berlim para a praia, arrisca-se a apanhar com um inspector das finanças que estará preocupado com os recibos.» [Luís Aguiar-Conraria]

Seria fácil responder a este breve comentário de Luís Aguiar-Conraria, um dos colunistas do Observador, lembrar-lhe ia que o governo anterior, muito apoiado nos seus artigos, penhorava e leiloava casas de habitação para cobrar dívidas fiscais bem inferiores ao IVA que os clientes pagam a um "homem das bolinhas" numa semana de vendas.

Há quem não perceba que sucede na economia o mesmo que acontece com os grandes rios, na sua nascente o Rio Tejo, tal como o Amazonas ou qualquer grande rio começa por um pequeno riacho ou mesmo por um barranco ou uma pequena fonte. Na sua nascente o Tejo tem a dimensão geográficas correspondente à dimensão económica do tal homem das bolinhas.

São as centenas de homens da bolinhas, das dezenas de homens dos bares, discotecas e restaurantes de praia que formam um grosso afluente que se junta a outros afluentes, como o das pequenas oficinas e automóveis, dos barbeiros e cabeleireiras, das dezenas de milhares de restaurantes, dos milhares de pequenas empresas de construção civil. Todo estes barrancos, riachos, ribeiras e afluentes vão engrossando o grande rio que é a economia e junto da foz deixamos de perceber qual a água que veio da nascente ou dos milhares de ribeiros que o alimentam depois.

O mesmo sucede com a evasão fiscal e é pena que Aguiar-Conraria não saiba quantos médicos poderiam ser pagos com o IVA que os homens das bolinhas ou os seus patrões metem ao bolso. Mito mais certamente do que o que o governo anterior amealhou com muitas casas vendidas em leilão para recuperar dívidas de centenas de euros. Há muitas formas de defender a evasão fiscal e esta é das mais perigosas porque destrói a noção de cidadania, porque divide os cidadãos entre os que devem cumprir e o que estão dispensados de cumprir os seus deveres, podendo roubar o IVA que lhes é confiado.

      
 Portugal em grande: França copia-nos
   
««Mais um reconhecimento internacional para Portugal: ontem, fomos considerados do mesmo patamar da França de Descartes. Infelizmente, não foi por mérito nosso, mas por eles terem descido ao nosso nível de iliteracia. Iguaizinhos a Portugal no que toca a tresler o que está escrito. A demonstração da indigência francesa foi feita à volta do livro, lançado hoje, sobre François Hollande, Un président ne devrait pas dire ça. Entre confissões e conversas com dois jornalistas, Hollande disse: "A mulher com o véu islâmico de hoje será a Marianne de amanhã." A Marianne é um dos símbolos da França republicana, uma mulher de seios nus que costuma estar nos átrios das câmaras municipais francesas - ao longo de décadas, atrizes como Brigitte Bardot e Catherine Deneuve posaram para ela. A frase de Hollande é clara. Aponta a evolução que ele quer para a muçulmana: que ela se sinta um dia cidadã de parte inteira, igual nos direitos. No livro, ele exprime, por várias vezes, essa mesma vontade de que, "religiosa ou não", ela "se liberte do véu". Pois bem, vários dirigentes da direita francesa leram em "a mulher com véu islâmico de hoje será a Marianne de amanhã" um desejo do presidente francês de que um dia Marianne... ponha véu. Instalou-se uma polémica. Tão comum em nós quando cega o esquerda versus direita (ou versa-vice). Para cá e para lá dos Pirenéus marra-se contra o adversário. Mesmo quando temos uma causa comum contra o inimigo.» [DN]»
   
Autor:

Ferreira Fernandes.

 Bob Nobel, nem menos
   
«Bob Dylan merece o Prémio Nobel da Literatura. Bob Dylan escreve ensaios, ficção e poesia há mais de meio século. Inventou um mundo cheio de personagens, histórias e encantamentos, denúncias, crenças e fantasmas.

Desde que Christopher Ricks defendeu Dylan como um grande autor da literatura mundial que há outros críticos académicos que se divertem a fazer pouco de Ricks. Mas a verdade é que Ricks foi o primeiro a ter a coragem de reconhecer o génio de Bob Dylan.

Dantes toda a literatura se dividia em categoriazinhas de merda – canções, contos, ensaios, reportagens, ficções, peças teatrais, poesia. O júri do Nobel tem feito o enorme favor de voltar a confundir tudo. No ano passado deu o prémio à jornalista Svetlana Alexievich, uma grande escritora que utiliza as entrevistas como matéria-prima para construir textos empolgantes sobre a condição humana.

Está fora de moda falar na eternidade, mas tanto Alexievich como Dylan serão imortais. Escrever é escrever. Um mau poeta será sempre pior do que um bom jornalista. Dylan é inegavelmente um grande escritor. A Academia sueca está a usar o Prémio Nobel para restaurar a literatura. Tomara que regresse à literatura oral. As histórias que não são escritas também podem ser grandes e imortais.

A obra de Dylan – que é caoticamente desigual, havendo coisas terríveis ao lado de obras-primas – é uma gloriosa colecção de todas as tradições literárias da humanidade, desde os trovadores aos cantores de blues, desde os contos de fada às orações.

Finalmente temos um Nobel à altura de Dylan.» [Público]
   
Autor:

Miguel Esteves Cardoso.

      
 É mais caro ir a Fátima do que ir ao Crazy Horse
   
«Numa pesquisa feita no Booking, ontem à tarde, saltava à vista que as poucas unidades disponíveis se situam a mais de 20, 30 ou 40 km de Fátima, o que não quer dizer que os preços baixem à medida que nos afastamos do santuário. Em Leiria (onde a taxa de ocupação é bastante elevada) merece destaque o preço para 12 de maio de uma suite no Lisotel, a 32 km do santuário e a 7 km de Leiria: 1488 euros; ou também do hostel Most Art Boutique, que tinha apenas um quarto para a noite de 12 de maio do próximo ano, ao preço de 450 euros. À margem dos hotéis e do crescente alojamento local, vive ainda algum negócio paralelo. Em Fátima, correm ofertas informais de quartos que particulares alugam por mil euros a noite, mas ninguém arrisca dar a cara a falar do assunto.

Mas Alexandre Marto, vice-presidente da ACISO - Associação Empresarial Ourém-Fátima, acredita que essa é uma imagem de Fátima que não corresponde à realidade: "O alojamento local está legalizado. Houve um trabalho enorme desde os anos 1980 até hoje, não apenas no esforço pela requalificação dos hotéis, mas também de legalização do alojamento local." Por isso mesmo acredita que "Fátima deve ser dos destinos mais escrutinados pelas diversas entidades", ao contrário da ideia que muitas vezes persiste.» [DN]
   
Parecer:

Com o dinheiro que se gasta para ver o papa ao longe em Fátima pode-se ir a Paris em executiva ver o Crazy Horse e ainda sobra dinheiro para umas sandes de courato.
   
Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Lamente-se a exploração dos que estão convencidos de que há milagres.»