quarta-feira, maio 18, 2016

Descomunicar

Graças ao desastre do Sporting a palavra na moda é comunicação, ao que consta, até o próprio Jorge Jesus que além de um grande treinador também se considera um grande comunicador, ter-se-á queixado da má comunicação do clube. A verdade é que a estratégia de comunicação do Sporting foi tão desastrosa que merece uma atenção séria, independentemente de paixões clubísticas.

O Sporting tentou por todos os meios influenciar o curso dos resultados a um ritmo semanal, quando não era o Facebook do presidente, eras as entrevistas do treinador, quando estes ficavam calados o serviço ficava entregue ao Octávio Machado. Pretendia-se pressionar tudo e todos, desestabilizar todos os que pudessem influenciar negativamente os adversários. Tentava-se promover a desconfiança em relação ao treinador, condicionar os árbitros e até fragilizar psicologicamente um jovem jogador. Valeu de tudo e o resultado foi desastroso, os adversários usaram a comunicação a seu favor com resultados brilhantes. O Sporting não perdeu o campeonato apenas nos relvados, perdeu-o no gabinete e nas redes sociais do presidente, nas salas de imprensa e na comunicação social.
  
Esta descomunicação desastrosa não se limita ao mundo do futebol, recordo-me, por exemplo, de quando o ex-secretário de Estado tentou assustar os comerciantes e anunciou, com pompa e circunstância, de que iriam ser feitos cruzamentos de dados entre a informação fiscal e os pagamentos feitos por multibanco. O resultado desta brilhante comunicação ficou expresso em muitas entradas de cafés e restaurantes, anunciava-se “não aceitamos multibanco”. 
  
A comunicação é um poderoso instrumento para influenciar os comportamentos quer de massas, quer quando se pretende atingir determinados alvos. Mas como qualquer arma importa saber utilizá-la, sob pena de ocorrerem resultados inesperados, que podem ser contrários. Veja-se o caso de Passos Coelho que tentou descredibilizar o governo  e andou meses a fazer de primeiro-ministro no exílio, em vez de describilizar descredibilizu-se. Depois fez de morto e durante cerca de um mês o país assistia a uma direita a fazer o velório de um líder em câmara ardente. Agora que tudo falho ou morte levantou-se de forma abrupta e está vivinho e até demais.
  
É incrível como gente que se esperava ser minimamente inteligente e, nalguns casos, gente muito experiente, em vez de comunicara descomunica.