sexta-feira, março 18, 2016

Interesse nacional e reversões

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“Mais vale ter trabalho precário do que desemprego” (António Saraiva, presidente da CIP)
Tradução: mais vale ser escravo e ter uma sopa do que morrer à fome


É do interesse nacional que as empresas sejam mais competitivas e por isso tudo o que seja perda de direitos laborais e de salários vai de encontro aos superiores interesses do país e do povo. É do interesse nacional cortar na despesa pública e como não convém cortar nos gastos que geram compras ao sector empresarial esse interesse justifica cortes de vencimentos.

Temos, portanto, um interesse nacional que se mede pelo sorriso do presidente da CIP, pelas cotações do PSI 20, pelos lucros dos CTT e pelos artigos do Financial Times. Os trabalhadores desempregados deixaram de ter subsídio de desemprego e recorrem à ajuda alimentar’ Não faz mal, é isso que resulta do entendimento sobre o que e o interesse nacional.

Não é do interesse nacional ter um SNS que proporcione bons cuidados de saúde porque o Estado Social é insustentável e os cuidados de saúde são caros. Não e do interesse nacional que as escolas públicas tenham qualidade pois esta é sempre maior nas escolas privadas. O interesse nacional não se mede pelo bem-estar dos portugueses, não há qualquer relação entre interesse nacional e desenvolvimento, é por isso que se fala tanto em crescimento económico e o conceito de desenvolvimento entrou em desuso.

A par desta forma original de medir o interesse nacional tendo em consideração os interesses de pouco mais do 1% da população em a lenga lenga das reversões. O traste de Massamá até anda armado em reformista acusando o governo de conservador e reaccionário. Agora os progressistas são os que chamam piegas ao povo, deixam doentes morrer à porta das urgências e tiram as que menos têm para conforto dos mais ricos.

Mas a alteração do horário de trabalho no Estado para as 40 horas não foi o regresso as tempos do fim-de-semana inglês, quando os serviços d Estado praticavam as 40 horas e abriam ao sábado de manhã? A precarização do trabalho não é regressar aos anos 60 em que os contratos de trabalho não tinham qualquer valor? A eliminação dos direitos laborais, com as sucessivas reformas, não vai no sentido de impor aos trabalhadores um quadro legal equivalente a que era mantido em ditadura com a ajuda da PIDE?

Aquilo que está sendo feito é uma reversão parcial aos anos 2010, é a reposição de um equilíbrio social resultante de décadas de progresso e de concertação, que os patrões tentaram destruir a coberto de uma crise financeira de que eles são os grandes responsáveis, em particular os patrões da banca. Isto é, não só provocaram a crise e destruíram muita riqueza, como agora querem recuperar o que perderam e com juros, graças a uma alteração forçada da distribuição do rendimento.

Não fi o actual governo que fez uma reversão no modelo social, fi Passos Coelho que se assumiu como primeiro-ministro eleito pelos patrões e tentu dar-lhes tudo o que a modernização da sociedade os levou a ceder, mais uma parte do que só tinham com a ajuda da PIDE.