quarta-feira, setembro 02, 2015

Quem vai pagar o desaire do Novo Banco?

Com aquele ar angelical a que nos habituou a ministra das Finanças insiste em afirmar que a intervenção no BES não terá custos para os contribuintes. Mesmo admitindo que os bancos privados não venham a recorrer aos tribunais para não terem de suportar os prejuízos provocados pelo processo de resolução do BES, como ameaçou no programa da SIC Notícias Quadratura do Círculo, é óbvio que a declaração da ministra é uma mentira.
  
De que custos fala a ministra? É óbvio que o OE para 2016 não vai contempla um imposto adicional para suportar os prejuízos resultantes da intervenção no BES, até porque as afirmações angelicais da ministra constituem um truque de linguagem. A ministra refere-se apenas ao eventual prejuízo decorrente da venda do Novo Banco e a promessa foi feita num tempo em que nem o Ulrich esperava um prejuízo da ordem dos dois mil milhões de euros.
  
É muito estranho que a ministra diga que o governo nada tem que ver com o negócio, mas apareça tantas vezes a intervir. Quando o governo se decidiu pela resolução do banco e informou os portugueses que não teriam de suportar tal decisão sabia muito bem o que estava fazendo. Depois disso o governador do BdP tudo fez para transferir muitos milhões de prejuízos para o banco mau, de quem ninguém fala. Só com este make up Carlos Costa escondeu quase dois mil milhões de prejuízo,  correspondentes aos que investiram no GES através do BES e que foram condenados à miséria em nome das ambições de Passos Coelho e o empréstimo da Goldman Sacs.
  
Isto é, aos dois mil milhões de prejuízos resultantes das perdas do fundo de resolução com a venda apressada do Novo Banco teremos de acrescentar os dois mil milhões da Goldman Sachs e dos pequenos investidores e muitos mais milhões que estão ocultados no banco mau e que mais tarde ou mais cedo darão lugar a processos judiciais. Isto significa que poderão estar em causa mais de quatro mil milhões e destes só metade serão assumidos pelo fundo de resolução, isso se os bancos privados não recorrerem aos tribunais, como ameaçou Fernando Ulrich. 

Dizer que as consequências da intervenção no BES não terá custos para os contribuintes é gozar com a inteligência dos portugueses, não passa de uma mentira contabilística. Todos os prejuízos resultantes desta intervenção, sejam os assumidos pelo Estado, sejam aqueles que os tribunais venham a atribuir ao Estado, sejam os transferidos para as contas da CGD, sejam os assumidos pela banca privada, todos eles serão mais cedo ou mais tarde transferidos para os contribuintes. 
  
Serão os contribuintes a suportar as consequências das responsabilidades assumidas pelo Estado ou atribuídas ao Estado pelos tribunais, a compensar com receitas ficais os lucros da CGD que deixarão de ser transferidos para o OE ou os impostos que a banca deixará de pagar em consequência das perdas que venha a assumir. Todos os custos serão mais tarde ou mais cedo assumidos pelos contribuintes.