quarta-feira, agosto 19, 2015

O que divide a candidatura de Maria de Belém

Há quem critique a candidatura de Maria de Belém de dividir o PS, ora é precisamente esse o objectivo da candidatura que não podemos criticar por receio do vozeirão poético nos vir acusa de complexos sexistas. Quando a candidatura é decidia há mais de um mês, lançada por uma oportuna sondagem da Aximage para o CM e tornada oficial com um comentário do Facebook no preciso momento em que António Costa estava em directo nas televisões serve para o quê, senão para dividir?
  
Virem agora dizer que o lançamento da candidatura através de um comunicado para a Lusa é gozar com a inteligência das pessoas. Maria de Belém aproveitou-se da entrega das listas de deputados por Lisboa para chamar as atenções para si própria, assumindo-se como suplente e prometendo falar da presidenciais apenas depois das legislativas, horas depois aproveita-se da presença de António Costa numa televisão para lançar uma candidatura. Enfim, a agora candidata presidencial começa de fora pouco digna a sua corrida presidencial, nem Cavaco Silva teria recorrido a este golpe sujo.
  
Mas a antecipação da candidatura de Maria de Belém faz todo o sentido e não está assim tanto em conflito com a intenção inicial de esperar pelas legislativas como parece. A candidatura faz parte da estratégia dos senhores que se seguem no PS e ao ser antecipada mais não é do que a antecipação da noite eleitoral. Da última vez Seguro desceu ao rés-do-chão para anunciar a sua candidatura à liderança do PS. Agora a luta pelo poder começou antes e a oposição de António Costa não quer esperar por uma eventual derrota de António Costa, quer antecipa-la.
  
Mas não é assim tão grave como parece, a candidatura pode dividir o PS mas está longe de dividir os eleitores. Há muito que o PS é um partido difícil de ser unido, a lógica do aparelho balcanizou aquele partido e hoje o seu aparelho é dominado por chefes de clãs, senhores da guerra e líderes tribais. Os seus eleitores não votam nos Cravinhos, no vozeirão poético, nos Seguros ou nas Anas Gomes, votam num projecto que de vez em quando é assumido pelo PS e que vem na linha do seu património histórico.
  
A candidatura de Maria de Belém pode animar guerras de clãs dentro do PS, pode animar a Ana Gomes e dar esperança ao João Galamba, mas não divide os eleitores e os que querem uma mudança em Portugal. O que está em causa não é a lógica do poder dos senhores da guerra e é neste quadro que foi lançada a candidatura, o que importa aos portugueses é uma mudança de políticas e isso não passa por golpes baixos em meados de Agosto.