terça-feira, junho 02, 2015

Francesco Schettino

Há uma regra não escrita aplicada a todos os barcos segundo a qual em caso de naufrágio o comandante deve ser o último a abandonar o navio. É uma regra que em sentido figurado se deve aplicar a todas as instituições, quem lidera uma organização não deve fugir às responsabilidades fugindo ao primeiro sinal de perigo, como fez Francesco Schettino, o cobardolas que era capitão do naufragado "Costa Concordia".

Os que estão abordo de um barco precisam de saber que podem contar com alguém com princípios e coragem no comando. Se isso não sucede há uma perda de confiança, as cadeiras de comando desaparecem e as hierarquias deixam de assentar em relações de respeito para passa ao quero posso e mando, um quero posso e mando que serve até para transferir culpas.

No caso das listas VIP foi evidente desde a primeira hora que mais do que saber o que estava em causa o poder no sector usou de todos os meios para iludir responsabilidades. A grande preocupação era ilibar o secretário de Estado de quaisquer responsabilidades, mesmo que para isso fosse necessário exibir a cabeça de subordinados. A estratégia deu resultado, depois de um momento de PREC em que o governo servia as cabeças que um sindicalista lhe ia pedindo as coisas acalmaram e capitão do navio evitou o afogamento.

Para que não subsistissem dúvidas fez-se a competente auditoria cuja principal conclusão foi a de que o comandante do navio não sabia de nada do que se passava a bordo. Nada de novo pois os responsáveis que se tinham imolado já tinham demonstrado a sua solidariedade com o responsável político assegurando que ele desconhecia o que se passava. Mas a auditoria que não investigou nada neste capítulo tirou a competente conclusão, uma conclusão importante a que chegou uma inspectora que há meia dúzia de meses desempenhava um cargo de adjuta no ministério o que pressupõe uma relação de confiança pessoal e política com a equipa desse ministério.
  
O assunto está encerrado, as cabeças rolaram e enfrentam a ameaça de um processo disciplinar, o que significa que estão sob uma chantagem que os obriga a ficarem quietinhos e caladinhos. Mas o pior de tudo isto é a lição que a Administração Pública tem recebido ao longo de vários casos, que cada um deve ter cuidado porque com esta gente que nos governa é bem provável que o comandante do navio seja um qualquer Francesco Schettino.