sexta-feira, julho 04, 2014

Consenso partidário ou contrato nacional?

Cavaco anda há mais de um ano a apelar ao compromisso, primeiro era o compromisso antes da troika, agora é o compromisso depois da troika, com ele são muitos os que apontam no mesmo sentido, principalmente personalidades da direita ou gente do centro e centro esquerda apreciadora do perfume do dinheiro.
  
O conceito de compromisso é simples, o povo não quer medidas difíceis e a única forma de as adoptar é assegurando que nenhum dos partidos que habitualmente disputam o poder possam obter ganhos eleitorais. O compromisso serve apenas para garantir que não seja apenas um partido a suportar as consequências do desagrado popular.

Este conceito de compromisso parte do pressuposto inaceitável de que o povo é tão imbecil que apenas distingue as políticas pela sua generosidade financeira, não distinguindo competência de incompetência. Pior ainda, parte-se do pressuposto de que uma boa política pressupõe a perda de direitos, a perda de qualidade dos serviços públicos e mais injustiças na distribuição do rendimento.
  
É mais do que óbvio que os muitos que defendem o compromisso concordam com a actual política e o que pretendem é apenas que o PS se co-responsabilize eleitoralmente pelas suas consequências. Se Cavaco acha que é possível um compromisso em torno de outras medidas governamentais então poderia fazer o que fez com Sócrates e devolver os diplomas ao parlamento exigindo um maior consenso parlamentar.
  
O que o país precisa não é de um compromisso cuja única virtude é desvalorizar a democracia transformando-a numa ditadura. Se o compromisso de Cavaco fosse aceite pouco importaria quem ganhasse as eleições ou a vontade dos portugueses, a actual política estava decidida para os próximos dez anos e as eleições serviriam apenas para escolher os seus executores mais simpáticos ou mais engraçados.
  
O que o país precisa não é um compromisso de governantes, tachistas e gangs partidários, Portugal precisa muito mais do que isso. Precisa de um contrato social alargado que assegure uma repartição justa quer dos sacrifícios, quer dos benefícios e não de um compromisso que assegure que sejam os que agora suportam os custos a ficarem depois excluídos dos benefícios.
  
É necessário um contrato que una o país e isso só é possível com justiça quer na repartição dos custos, quer na partilha dos benefícios. O compromisso de que se tanto se fala representa a consolidação das injustiças à custa da negação das virtudes da democracia e parte do pressuposto de que só os partidos, o presidente, os jornalistas, os banqueiros e o governador do BdP é que sabem o que o país precisa e todos os outros portugueses são imbecis.
  
Portugal não precisa de compromissos de poder assinados em reuniões secretas vigiadas por controleiros de Belém, Portugal carece de um contrato que assegure uma repartição equitativa dos custos e dos benefícios. O problema do país é de justiça e não o saber que partidos ganham ou perdem mais com as decisões e políticas governamentais. O país deve ser gerido a pensar no seu povo e não condicionado por raciocínios cavaquistas de luta pelo poder.