segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Ondas

Os responsáveis pelos espectáculos públicos estavam de fim-de-semana e só isso pode explicar que apesar das condições do tempo e dos apelos do Estado a que os cidadãos não saíssem de casa o jogo Benfica Sporting tenha sido mantido e se não fosse aquela coisa que se parecia com o cabelo de Jesus até se tinha realizado. Aliás, os comentadores desportivos nem estavam muito preocupados com os 60.000 cidadãos, o que os incomodava era a comichão que a lã de pedra faria na pele dos jogadores. Até ao momento o governo não disse uma palavra sobre este teste nacional à segurança e vida de 60 mil portugueses.
 
Desde que o Mcnamara bateu o recorde na Nazaré que as ondas passou o tema preferido dos fotógrafos e o espectáculo gratuito mais apreciado pelos portugueses, incluindo aqueles que quando vão à praia começam a ficar nervosos quando a água lhes chega aos joelho. De Sagres à Foz há romaria de portugueses em busca de adrenalina. A crer no grande Dux da Lusófona foi isso que sucedeu na fatídica noite do Meco, estavam todos em amena cavaqueira com os pés na água.

Quem parece ter medo das ondas e do vento são os membros do governo, por mais que as ondas destruam a costa ou que a tempestade dê cabo das explorações agrícolas e impeça os pescadores de ganhar a sua vida há mais de um mês, nenhum membro deste governo deu a cara ou manifestou a mais pequena solidariedade com os portugueses. Uns desapareceram, outros como Passos Coelho só aparecem onde estão certos que o temporal do povo não lhes faça o que o vento parece ter feito à farta cabeleira do treinador do Benfica.
 
O único político que apareceu junto ao mar e mesmo assim em local menos povoado foi o Tozé, levava tantas camadas de roupa que mais parecia uma cebola do Entroncamento, disse umas patacoadas, fez uma promessa a lembrar os sensores anti-tsunami prometidos por Santana Lopes quando era primeiro-ministro e certo de que seria notícia nos telejornais regressou ao quentinho da sua casa. Quanto aos prejuízos para pescadores e agricultores não disse uma palavra, um pequeno esquecimento dos seus assessores.
 
O país está a ser vítimas de ondas violentas, ondas de estupidez colectiva, ondas de cobardia governamental, ondas de irresponsabilidade estatal, onda de loucura futebolística, ondas de oportunismo partidário e como se tudo isto fosse pouco ainda temos as ondas do mar a dar-nos cabo das praias, ainda corremos um sério risco de no próximo Verão o Passos Coelho nos cobrar um bilhete de acesso às praias pois quem não paga a areia também não tem direito a deitar-se nela.