terça-feira, janeiro 07, 2014

SNS, o meu testemunho

Como é do conhecimento dos visitantes do Jumento no ano passado estive internado em hospitais públicos durante três meses, tive a oportunidade de conhecer o Hospital Distrital de Faro que era gerido pelo Estado e o CMR Sul, em São Brás de Alportel, que se tratava de um investimento no âmbito das famosas PPP e era gerido por uma empresa privada. 
  
Não encontrei grandes diferenças entre o modelo de gestão privada e o modelo de gestão pública, aqui ou ali um pequeno pormenor, mas as diferenças entre as duas instituições residia mais no modelo cultural resultante das características dos seus dirigentes clínicos do que da famosa superioridade da gestão privada. Obedecendo a modelos de gestão diferentes ambas as instituições pareciam ser bem geridas.
  
O CMR Sul é uma instituição modelar ao nível internacional muito fruto das qualidades da sua directora clínica e do corpo de terapeutas, uma equipa de gente muito jovem, criteriosamente selecionada e empenhada no sucesso da instituição. No Hospital Distrital de Faro tive a oportunidade de conhecer a UCI, ainda que com grandes limitações, e a enfermaria de pneumologia. Não alteraria substancialmente os dois serviços em função do que vi no CMR Sul, assim como não alteraria grande coisa neste com base na minha vivência em Faro.
  
Outro aspecto que devo assinalar é que nem em Faro, nem em São Brás senti uma qualquer carência de recursos com consequências no tratamento que pudesse ser atribuído a um corte orçamental, Julgo que fiz todos os exames de diagnóstico e recebi todos os tratamentos aplicáveis nos problemas que enfrentei, nunca um médico ou enfermeiro se queixou de não poder fazer isto ou aquilo por causa de limitações financeiras. Sei que nos hospitais públicos alemães os médicos só podem gastar um determinado número de luvas e que esse número é bem inferior ao que qualquer profissional gasta no Hospital Distrital de Faro.
  
Se nas escolas há sinais evidentes das consequências dos cortes financeiros e pelas medidas do ministro pode concluir-se que há uma intenção clara de destruir a escola pública, nos hospitais que conheci não identifiquei qualquer corte brutal, o único queixume que ouvi teve como razão a falta casual de papel higiénico nas enfermarias de Faro. O ministro da Saúde tem cortado no chorudo negócio dos medicamentos e na organização de um sistema que por razões muitas vezes eleitoralista se tornou desorganizado.
  
Ainda bem que não posso dizer cobras e lagartos do meu “velho amigo” Paulo Macedo, mas a verdade é que pelo que tenho visto não há nada que tenha sido feito com que eu não possa concordar ou, pelo menos, aceitar em função da situação que o país vive. Se os cortes na saúde tivessem obedecido aos critérios que temos visto noutros sectores, como a energia ou as telecomunicações, as farmacêuticas e as farmácias teriam aumentado os lucros e os doentes teriam ficado à porta do hospital. O SNS não só conseguiu manter os seus níveis de eficácia como ainda teve que dar resposta aos de deixaram de poder suportar os custos do recurso à medicina privada.
  
Não posso elogiar mais o SNS, encontrei em Faro e em São Brás equipas de profissionais de mão cheia, gestores competentes e uma utilização racional e equilibrada dos recursos financeiros. A eles devo a cura, o conforto e uma total confiança no nosso SNS, mesmo durante a maior crise financeira que o país enfrentou.
  
PS: 

Todos os que visitam este blogue há anos sabem das minhas desavenças com o actual ministro da Saúde no tempo em que era director-geral dos Impostos, o dr. Paulo Macedo. Mas mantenho com o dr. Paulo Macedo qualquer relação de ódio ou de amizade e da mesma forma que o critiquei quando era director-geral tenho de lhe reconhecer a arte de cortar a despesa do SNS atacando os lóbis instalados, desde o oportunismo das farmacêuticas aos abusos dessas empresas de transportes que são as corporações de bombeiros. Oxalá tivesse sucedido o mesmo noutros sectores, como o da energia ou das telecomunicações.
  
Durante a minha estadia o CMR Sul era gerido pela Galilei, o novo nome da SLN, a dona do famoso BPN. Não nutro qualquer simpatia pela Galilei, pela SLN e muito menos pelo BPN, não mantenho qualquer filiação aos cavaquistas nem nunca negociei acções com o Oliveira e Costa. Mas tenho de reconhecer e elogiar a boa gestão do CMR Sul, um centro de reabilitação que de acordo com os resultados de auditorias internacionais é o 7.º ou 8.º melhor centro de recuperação da Europa.

Mais ainda, obedecendo ao princípio de que em equipa que joga bem não se mexe no treinador, tenho que lamentar a decisão do Tribunal de Contas de ter impedido que a gestão do CMR Sul fosse prolongada por mais um ano. Enfim, compreendo que o Tribunal de Contas tenha alguma alergia a tudo o que cheire a SLN, se calhar o seu presidente ainda sente e quer esquecer o cheiro dos euros que ganhou quando era administrador não executivo do Banco Efisa, um banco da SLN usado nas trafulhices dos gestores de então.