sexta-feira, janeiro 31, 2014

A limpeza

Já se percebeu que Passos Coelho sabe para onde quer ir e que contando com o apoio de alguma direita europeia usa a chantagem da troika para ignorar todo e qualquer princípio, sejam os princípios constitucionais, sejam morais ou éticos. O mais grave é que os governantes, os deputados e os militantes do PSD parecem zombies, seguem o chefe para onde ele vai.
  
Passos Coelho achou que o problema da economia podia ser tratado como se fosse uma questão de encontrar o calibre adequado para uma arma e depressa todos os governantes desataram a encontrar problemas económicos ou sociais para calibrar. Até há ministros, gente que antes de Passos era muito ciosa da sua dignidade, que procuram novos conceitos desta suposta engenharia pessoana para aplicar aos problemas, agora já há quem em vez de calibragem das medidas tenha adoptado a da densidade, parece que em vez de calibrar os critérios do despedimento nesta caso o termo correcto é densificar. 
  
Passos Coelho não gosta de nada que cheire a Sócrates, parece que tem um qualquer complexo em relação ao seu antecessor, pelo que tudo o que simbolize a anterior governação é para destruir, só se escapou o Magalhães porque se estava a vender bem e não dependia do governo. Os ministros perceberam o sentimento do primeiro-ministro e desdobraram-se nesta revolução cultural e destruíram tudo o que poderia lembrar Sócrates. Não se escapou nada, a modernização das escolas foi interrompida e agora até faz manchete no jornal (talvez para substituir outros processos que vão sendo arquivados), acabou a formação profissional, as energias renováveis deixaram de ser prioridade, o TGV foi abandonado. Agora, aos poucos, tudo vai sendo retomado, mas com nomes, calibragens e densidades diferentes.
  
Passos Coelho não gosta do Estado, não se percebe muito bem porquê já que a sua fundamentação ideológica é inconsistente e cobarde, nuns dias diz uma coisa, noutros justifica-se com outra. Mas como as paredes dos edifícios não têm dor as vítimas deste ódio ao Estado são os funcionários públicos, principalmente os quadros, quase todos eles com habilitações académicas mais credíveis do que as de Passos Coelho, para não referir as do Miguel Relvas. Todo o governo se desdobra em ataques a funcionários e pensionistas, cada ministro cria a sua própria sala de tortura e parece que estão competindo para ver qual deles lixa mais os funcionários públicos.
  
Passos Coelho prefere as empresas de mão-de-obra intensiva pelo que os quadros mais qualificados são dispensáveis e o resultado é o que se vê, jovens qualificados a emigrar, investigadores a serem convidados a partir por asfixia financeira, professores desprezados. O país não precisa de boas escolas e muito menos de tantos quadros, que partam pois a Lusófona ou a Lusíada de Passos Coelho produz a mediania intelectual de que o modelo idealizado pelo primeiro-ministro carece.