quarta-feira, julho 24, 2013

Parece que Gaspar tinha razão quanto à falta de liderança, o governo saído da remodelação é um governo sem liderança, um governo do CDS tutelado por um vigilante designado por Cavaco Silva. Paulo Portas foi à travessa, serviu-se de todo o filet mignon e deixou o esparregado para Passos Coelho mais a sua trupe de estarolas.
 
A manobra de Paulo Portas foi tão perfeita que até deixou para a ministra das Finanças a importante tarefa de assumir a parte desagradável das negociações com a troika. Até na refundação do Estado essa fronteira existe, Portas vai continuar a falar de modernização do Estado e a manifestar as suas saudades pelo Simplex, enquanto ao ministério das Finanças vai caber a coordenação do mega investimento ou a introdução das normas da proletarização forçada dos funcionários públicos.
 
Até o porta-voz das conspirações de Paulo Portas contra o governo se passou para o governo que criticava, Com Pires de Lima quase toda o directório do CDS está dentro do governo. O CDS controla o que é bom, gere as relações com o mundo rural, controla tudo o que possam vir a ser medidas de crescimento, coordena o sector público e ainda tem o Lambretas a gerir a caridade institucional e as relações com as as organizações do sector, uma importante máquina em tempo de eleições.
 
Para o PSD ficam os polícias que dão bordoada, os cortes da saúde, a destruição do ensino público, a austeridade das Finanças. Portas lavou a sua cara, meteu alguém com uma boa imprensa financiada com a publicidade às bebedeiras, aliviou a carga da sua ministra mais incompetente e ainda ficou com a pasta do emprego. Resta-lhe ir tirar o QREN ao lírico do maduro, bem como a diplomacia económica e o IACEP ao vigilante nomeado por Cavaco Silva.
 
Para Paulo Portas isto foi como limpar o cu a meninos e ainda conseguiu pôr o seu velho inimigo de Belém a fazer uma figura triste que o transforma em mula da carroça deste governo. O PSD conseguiu o seu velho sonho de ter uma maioria, um presidente e um governo mas vai pagar com língua de palmo o facto de só o ter conseguido com uma coligação com Paulo Portas.
 
Paulo Portas está mais perto do que alguma vez esteve de alcançar o seu sonho de destruir o PSD e reunificar a direita portuguesa sob a sua liderança. O que está em causa com esta remodelação não é a coesão do governo, essa é garantida pela troika, pelo menos enquanto o Durão Barroso estiver à frente da Comissão, é a coesão e a própria sobrevivência do PSD que está em causa.
  

Passos Coelho andou a jogar ao gato e ao rato com Paulo Portas e no fim aconteceu o que costuma suceder nos filmes de banda desenhada, ganhou o rato. Passos Coelho não será apenas uma espécie de filoxera que deu ao país, sê-lo-á também para o seu partido que por este andar terá de ser nacionalizado como sucedeu com o BPN. Enfim, a ideia de uma maioria e de um presidente acaba por se transformar numa maldição cavaquista.