quarta-feira, outubro 15, 2008

Vem aí o regabofe orçamental


O debate do Orçamento de Estado está para a política, como as couves estão para os mercados em véspera do bacalhau com todos da consoada, nos próximos tempos todos vão tentar vender o mais possível com o Orçamento. Governo, oposição e jornalistas vão ter aqui o momento alto do ano, uns tentarão recuperar a credibilidade perdida, outros vão passar o orçamento a pente fino para encontrar algo que dê para a primeira página ou a abertura do telejornal.

Com as restrições políticas, o excesso de funcionários públicos, os investimentos já programados e os compromissos do serviço da dívida pública o Orçamento deixa pouca margem para opções políticas, a não ser que se opte pela desbunda orçamental, fazendo flores à custa do aumento da dívida pública. Mas, mais receosos dos raspanetes de Bruxelas do que o protesto dos filhos e netos a quem deixariam a dívida, os nossos políticos andam mais cuidadosos e resistem à tentação de aldrabar as contas, mandando o défice para debaixo do tapete.

Os políticos da oposição vão votar contra com as melhores das intenções, manterão uma postura séria de quem vai meditar profundamente sobre o assunto para depois concluírem que o orçamento é mesmo mau. No caso de Ferreira Leite nem foi preciso esperar muito tempo, ainda ensaiou uma manobra de seriedade mandando António Borges dizer que o PSD votaria favoravelmente se o documento verificasse alguns ”ses”, mas a líder não resistiu à intervenção pública e horas depois veio dizer que o orçamento era muito mau. Temos portanto alguém que mesmo sem ainda ter o documento conseguiu estudá-lo a tempo de ser notícia de telejornal, decidindo-se logo pelo voto negativo.

Para o governo o documento é uma maravilha, os funcionários vão ficar a ver navios mas o ministro das Finanças descobriu que iria ter o maior aumento da última década. O ministro mostra que sabe calcular percentagens e manipular a sua lógica, depois de anos a perder poder de compra, os últimos três graças aos seus orçamentos, não seria muito difícil que um aumento simbólico tivesse direito a Guiness. Esperemos que os funcionários não o levem a sério, não vão desatar a investir os prometidos excedentes de rendimento na bolsa e serem vítimas de alguma crise do subprime.

Vamos assistir a reduções de impostos que não são cobrados, incentivos fiscais infinitesimais para investir no plano tecnológico ou poupar no CO2, aumento do bodo dos pobres e outras despesas que ocupam mais páginas de jornais do que as contas do Tesouro.

Os jornalistas da especialidade também farão o seu papel, vão vasculhar cuidadosamente os números e descobrir coisas tão importantes como as despesas com estudos ou com o papel higiénico do Palácio de São Bento.